
Todos os monstros são humanos
- Maria Aline
- há 13 minutos
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Nas últimas semanas, o mundo mostrou os dentes. Um homem desferiu socos no rosto de uma mulher dentro de um elevador, como se fosse dono do corpo dela, da dignidade dela, do tempo e do espaço.
Um ser humano. Outro. Igual a mim, a você. Só que podre por dentro.
Enquanto isso, um indígena foi violentado dentro de uma cadeia no Amazonas. Um ser que carrega nas veias a história deste país, tratado como lixo, como nada.
E a gente segue, com a TV ligada, o celular na mão, ouvindo manchetes que escorrem sangue e silêncio.
Nunca é um monstro que ataca.
Não tem nenhuma criatura mítica por trás dos estupros, da tortura, da guerra, dos corpos caídos sem justiça.
Não são os zumbis que abandonam crianças em abrigos.
Não são fantasmas que passam a mão em meninas no transporte público.
Não são demônios que legislam contra corpos que sangram e choram.
É gente.
É sempre gente.
A maldade mora ao lado. Às vezes, dentro da própria casa.
Ela fala bom dia, bate ponto, posta foto com filtro de coração.
E é isso que dá mais medo.
Porque os monstros das histórias, a gente sabe como vencer.
Mas esses aqui, que sangram os outros em silêncio, esses que riem enquanto destroem… esses, ninguém ensina como evitar.
Os verdadeiros monstros às vezes dormem do nosso lado.
Assinam contratos, têm CPF.
Mandam emoji de oração.
Fingem humanidade enquanto a perdem todos os dias.
E o pior de tudo:
Nunca foi sobre criaturas.
Foi sempre sobre escolhas.
E sobre como o ser humano, às vezes, escolhe ser menos que humano.
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