
Onde estão as curandeiras?
- Maria Aline
- há 2 dias
- 1 min de leitura
Já faz tempo que elas existem. Muito antes de qualquer igreja, de qualquer livro sagrado. Antes das cidades, antes dos remédios de farmácia. Eram as mulheres que entendiam a terra, o corpo, as plantas, o tempo.
Sabiam que o boldo cura o fígado, que a arruda espanta mau-olhado, que um banho de alecrim renova as energias. Eram bruxas, curandeiras, benzedeiras.
Aprenderam com as avós, que aprenderam com as mães, que aprenderam com as indígenas, que aprenderam com a floresta.
Sabiam aparar um parto, fechar um corpo, aliviar uma febre com um chá. Sabiam ler os sinais do céu, os ciclos da lua, os movimentos do vento. Sabiam cuidar.
Mas um dia começaram a chamá-las de perigosas. De bruxas. De hereges. Porque sabiam demais. Porque curavam sem precisar de doutores.
Porque falavam com as ervas e entendiam os mistérios do mundo sem precisar de homem nenhum para explicar. E assim, muitas foram silenciadas, perseguidas, apagadas da história.
Ainda hoje, a intolerância espreita, disfarçada de descrença, de zombaria, de medo. Mas elas resistem. Continuam acendendo velas, soprando benzimentos, colhendo ervas na lua certa.
Ainda nascem crianças em mãos de parteiras, ainda há corpos que se curam com garrafadas e reza brava. Ainda há saberes que não cabem em livros, mas correm no sangue, na memória, no olhar de quem aprendeu ouvindo histórias ao pé do fogão.
O mundo moderno esqueceu muita coisa, mas elas não esqueceram. Elas seguem aqui, guardando o que é invisível para os outros, mas essencial para quem sente.
Ps. Não encontrei a autoria da imagem, se alguém souber, por gentileza me avise, assim posso dar os devidos créditos.
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