Amar de longe é fácil
- Maria Aline
- há 2 dias
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De longe não existe rotina, não existe a bagunça da vida real. Não tem louça na pia, silêncio pesado depois de uma discussão ou a pressa do dia que engole o cuidado.
De longe, a gente escolhe os melhores horários pra conversar, prepara as palavras, manda só aquilo que deseja mostrar. De longe, não há como tropeçar naquilo que escapa da boca sem querer, porque tudo pode ser apagado antes do envio.
Amizades distantes vivem nesse campo protegido. O amigo que mora longe não vê o nosso mau humor matinal, não testemunha nossos defeitos no detalhe.
Ele nos conhece pela parte escolhida, pela versão editada que a distância permite. E talvez por isso algumas dessas amizades durem tanto: porque não enfrentam as pequenas guerras do convívio.
E os amores… ah, os amores distantes. Eles sobrevivem na idealização. Seja pela geografia, seja pelo tempo, permanecem eternos porque nunca precisaram disputar espaço com a vida cotidiana.
Um amor distante não vê as rachaduras, não envelhece no contato, não se desgasta nos choques de personalidade. Ele vive num lugar perfeito da memória, do desejo ou da tela.
Mas se amar de longe é fácil, o desafio verdadeiro é amar de perto. É quando o outro está ao alcance, com todos os defeitos e silêncios.
Amar de perto é encarar a rotina, é suportar as falhas e ainda assim escolher permanecer.
Talvez por isso a gente guarde com tanto carinho os amores e amizades que ficaram longe: porque eles nunca precisaram enfrentar a prova do real. Eles são poesia guardada na lembrança, são paisagens que nunca perderam a cor.
Amar de longe é fácil. Difícil é amar de perto, e continuar escolhendo.
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