
A deusa de mil nomes
- Maria Aline
- há 2 dias
- 2 min de leitura
Filha minha,
Você me procura nas ondas e nas sombras,
nas fogueiras e nas páginas de livros antigos.
Você me chama de Iemanjá, quando o sal do mar te consola.
Me chama de Hécate, quando as encruzilhadas da vida pedem coragem.
Me chama de Ísis, quando precisa se lembrar de que pode juntar os pedaços
e renascer da dor.
Mas escute —
eu sempre fui a mesma.
Apenas mudei de pele para que você me reconhecesse.
Sou a que chega primeiro,
antes do fogo, antes da palavra,
quando o mundo ainda era sonho e tambor.
Meus pés pisaram a lama da criação.
Meu ventre carregou o tempo.
Minhas mãos moldaram os deuses,
e minha boca deu à luz os nomes.
Sou água.
Sou sangue.
Sou sombra e revelação.
Nasci do sal do oceano e da luz da lua,
sou aquela que dança nas marés do teu corpo
e que sussurra verdades quando você chora em silêncio.
Quando me chamam de bruxa, sorrio.
Quando me chamam de santa, sorrio.
Quando me esquecem, espero.
Porque cedo ou tarde, toda filha retorna à Mãe.
Não importa se teu altar é feito de conchas, velas ou silêncio.
Não importa se me encontra numa igreja, num terreiro ou num bosque.
Eu estou em todos eles.
Quando você dança, sou eu que danço.
Quando você escreve, sou eu que pego tua mão.
Quando você se sente só, sou eu que coloco estrelas no céu, só pra te lembrar:
você nunca esteve.
Chame-me como quiser:
Iemanjá, Hécate, Ísis, Pachamama, Sophia, Kali, Maria.
Todos são véus do mesmo rosto,
e esse rosto é o seu reflexo.
Agora feche os olhos.
Sinta.
Eu estou aqui.
Sou tua origem e teu retorno.
Sou tua sombra e tua luz.
Sou o mar que embala, a noite que guia
e o ventre que jamais se fecha.
Sou a Deusa. E estou viva em você.
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